sexta-feira, 31 de maio de 2013

Comentários sobre o poema "O Navio Negreiro"

Quarta parte do poema O Navio Negreiro, do escritor Castro Alves:

Era um sonho dantesco!... o tombadilho,
Que das luzernas avermelha o brilho,
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros ... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...

Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras, moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!

E ri-se a orquestra, irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais...
Se o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se gritos...o chicote estala.
E voam mais e mais...
Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece,
Outro, que de martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!

No entanto o capitão manda a manobra.
E após fitando o céu que se desdobra
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!..."

E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais...
Qual num sonho dantesco as sombras voam!...
Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
E ri-se Satanás!...


Comentando- se...

Um dos mais conhecidos poemas da literatura brasileira, O Navio Negreiro – Tragédia no Mar foi concluído pelo poeta Castro Alves em São Paulo, em 1868, quase vinte anos depois, portanto, da promulgação da Lei Eusébio de Queirós, que proibiu o tráfico de escravos, de 4 de setembro de 1850. A proibição, no entanto, não vingou de todo, o que levou Castro Alves a se empenhar na denúncia da miséria a que eram submetidos os africanos na cruel travessia oceânica. É preciso lembrar que, em média, menos da metade dos escravos embarcados nos navios negreiros completavam a viagem com vida.

Navio Negreiro Parte IV - Análise

1ª estrofe: Comentário

O poeta faz referencia à um pesadelo macabro, em que os escravos ("negros da cor da noite") realizam uma “dança” horrorosa, a cada chicotada dos açoites enquanto banham-se pelo próprio sangue.

2ª estrofe: Comentário

Retratando a REALIDADE, o poeta descreve as mulheres (mães) como animais quaisquer, que alimentam seus filhos não mais com o leite, e sim com o próprio sangue, enquanto as moças desprotegidas, agora, sofrem assustadas com todo esse ocorrido, que veio como uma onda de sentimentos e dor,  ficam magoadas de não ter suprido antes suas ânsias, que então por toda a vida  existirá.

3ª estrofe: Comentário

Castro Alves, por meio de metáforas relaciona os sons das chicotadas que os negros levavam, a um som que penetra a alma e os movimentos que o chicote fazia ao realizar tais sons. Os negros sofriam tal castigo se apenas cochilasse por causa do cansaço.

4ª estrofe: Comentário

Os escravos, todos presos a uma só corrente, sofriam juntos, choram juntos, eram castigados juntos...  Cada um “terminava” o sofrimento de modo diferente, e nos momentos de calmaria alguns ainda alegravam-se temporariamente para esquecer-se do presente.

5ª estrofe: Comentário

Querendo um pouco de “diversão” o capitão ordena seus marinheiros a castigarem os negros, de modo desnecessário, usando da força e da violência, fazendo-os “dançar” com os chicotes, ou seja, agonizando-os com dor, aos “sons” das chicotadas, que feria os cativos.

6ª estrofe: Comentário

E após as ordens do capitão na estrofe cinco, o castigo recomeça. Os negros são maltratados e humilhados, em misturas de sons ressoam as preces dos negros e gritos envolvidos do som da chicotada. “E ri-se Satanás!…” quem ri são os marinheiros e seu capitão, metaforicamente retratados como o próprio Satanás, no inferno, que é o navio negreiro.

A parte IV do poema Navio Negreiro de Castro Alves demonstra de modo extremamente realista o interior do navio negreiro e suas ocorrências, expondo o sentimento do escravo no momento de sofrimento e como era aterrorizante os castigos que eles sofriam. Percebe-se que Castro Alves utilizou muito metáforas para mostrar alguns acontecimentos do navio, que de modo direto não transmitiria ao leitor a capacidade de sentir-se dentro do inferno, no caso dentro do navio negreiro, vendo toda a brutalidade que o homem causou aos negros nessa época escravista horrenda.

Por Artur Lins

5 comentários:

  1. nossa mt obgd ! seu blog me ajudou mt, mt msm !!!

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  2. Muito obrigada, minha analise pôde ser complementada com a sua, ajudou bastante no meu dever!

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  3. Muito obrigado por ajudar vocês fez muito bem .

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  4. Muito boa a explicação, ajudou demais no dever da minha filha. Obrigado

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