segunda-feira, 6 de maio de 2013

Comentários sobre o poema "O povo ao poder", do escritor Castro Alves





O POVO AO PODER "Castro Alves"

Quando nas praças s'eleva
Do povo a sublime voz...
Um raio ilumina a treva
O Cristo assombra o algoz...
Que o gigante da calçada
Com pé sobre a barricada
Desgrenhado, enorme, e nu,
Em Roma é Catão ou Mário,
É Jesus sobre o Calvário,
É Garibaldi ou Kossuth.

A praça! A praça é do povo
Como o céu é do condor
É o antro onde a liberdade
Cria águias em seu calor.
Senhor!... pois quereis a praça?
Desgraçada a populaça
Só tem a rua de seu...
Ninguém vos rouba os castelos
Tendes palácios tão belos...
Deixai a terra ao Anteu.

Na tortura, na fogueira...
Nas tocas da inquisição
Chiava o ferro na carne
Porém gritava a aflição.
Pois bem... nest'hora poluta
Nós bebemos a cicuta
Sufocados no estertor;
Deixai-nos soltar um grito
Que topando no infinito
Talvez desperte o Senhor.

A palavra! vós roubais-la
Aos lábios da multidão
Dizeis, senhores, à lava
Que não rompa do vulcão.
Mas qu'infâmia! Ai, velha Roma,
Ai, cidade de Vendoma,
Ai, mundos de cem heróis,
Dizei, cidades de pedra,
Onde a liberdade medra
Do porvir aos arrebóis.

Dizei, quando a voz dos Gracos
Tapou a destra da lei?
Onde a toga tribunícia
Foi calcada aos pés do rei?
Fala, soberba Inglaterra,
Do sul ao teu pobre irmão;
Dos teus tribunos que é feito?
Tu guarda-os no largo peito
Não no lodo da prisão.

No entanto em sombras tremendas
Descansa extinta a nação
Fria e treda como o morto.
E vós, que sentis-lhe o pulso
Apenas tremer convulso
Nas extremas contorções...
Não deixais que o filho louco
Grite "oh! Mãe, descansa um pouco
Sobre os nossos corações".

Mas embalde... Que o direito
Não é pasto do punhal.
Nem a patas de cavalos
Se faz um crime legal...
Ah! não há muitos setembros!
Da plebe doem os membros
No chicote do poder,
E o momento é malfadado
Quando o povo ensangüentado
Diz: já não posso sofrer.

Pois bem! Nós que caminhamos
Do futuro para a luz,
Nós que o Calvário escalamos
Levando nos ombros a cruz,
Que do presente no escuro
Só temos fé no futuro,
Como alvorada do bem,
Como Laocoonte esmagado
Morreremos coroado
Erguendo os olhos além.

Irmãos da terra da América,
Filhos do solo da cruz,
Erguei as frontes altivas,
Bebei torrentes de luz...
Ai! soberba populaça,
Rebentos da velha raça
Dos nossos velhos Catões,
Lançai um protesto, ó povo,
Protesto que o mundo novo
Manda aos tronos e às nações.

Sobre o poema...


Castro Alves, o nosso mais inspirado poeta condoreiro com a obra “O povo ao poder”, confirma mais uma vez seus objetivos durante a sua intensa produção literária: Os ideais de República, aspiração política dos liberais mais exaltados e de Abolição da escravatura, em prol de mudanças sociais e morais. 



A história desse poema nos remete à dois séculos atrás, mas precisamente em 1864, quando Castro Alves tinha 17 anos. Ele estudava na Faculdade de Direito em Recife, cidade em que viveu grande parte da sua vida. Para manifestar-se contra a repressão policial em um comício e a prisão do grande jornalista paraibano Antônio Borges da Fonseca, Castro Alves escreve o vibrante poema “O povo ao poder”!

                                           Análise do poema:

Como em diversos poemas, fazer a sua analise é um pouco complicada devido ao grande uso de recursos líricos, como a rima, a métrica e o uso de palavras pomposas. Mas em compensação é possível perceber o grande legado nas mensagens expressas e deixadas   nesse poema de castro Alves.

O poema começa falando a respeito da magnitude que tem a “voz” do povo unido, ou seja, a pura expressão de grandiosidade exaltada. Quando uma população se une, esta se torna capaz de “derrotar gigantes” e mudar toda uma sociedade, principalmente quando um assunto é do interesse de todos, como no caso de Castro Alves, a busca pela liberdade civil.

Nas posteriores estrofes, é retratado o sentimento de pertencimento que o povo tem com a terra, citando uma comparação entre "condor e o céu", e também mostra o sentimento de busca da liberdade por parte do povo.

É feito também o questionamento da posse de territórios a só uma pessoa (na época os senhores de escravos), onde defende-se os ideais do bem comum, em que "o tudo é de todos", e fundamentando os ideais de divisão de bens numa sociedade democrática.

Leva-se em conta também 2 termos: A rua e a praça, meio de encontro de uma população e onde os ideais de liberdade se fazem "ação" ou se expressam com força maior.

Ao longo do poema é falado que, nos momentos ruins, aqueles que eram desprezados, no caso, os escravos e o povo (plebe), queriam poder gritar, ou seja, dar a voz a ouvir, mas nesses momentos eram castigados severamente, não podendo se manifestar. Tinham então que implorar para falar e se expressar. Contudo, a busca pela liberdade de expressão e de direitos civis gerava opressão por parte do Governo imperialista e coronelista do Brasil no século XIX.



Os “senhores” não tinham compressão com os "torturados", sendo que estes guardavam um sentimento esperançoso de possível mudança nas relações para com esses “senhores”, e que um dia haveria uma transformação nas opiniões e pensamentos do regimento da sociedade brasileira. Sem dúvida a liberdade tende a emergir, pois é necessário para toda e qualquer convivência harmoniosa em uma sociedade.

O povo quando se mobiliza é capaz de mudar as leis vigentes, ou seja, mudar o mundo. Castro Alves comprara a erupção de um vulcão á força da voz do povo que emerge em prol de mudanças positivas.

Posteriormente comenta-se sobre a divisão do mundo: Sul, pobre e agrário, que ainda vive em regime agrário e sofre com a pobreza e a escravidão e o Norte, com grandes potências desenvolvidas economicamente, como a Inglaterra, que se contrapõem com sua hegemonia, politicas revolucionárias e abolicionistas.

Os negros e as pessoas “livres” (plebe) não aguentavam mais sofrer com a escravidão e a censura, sendo maltratados pelos "senhores" que eram encobertos por um direito penal sem "punições" aos crimes que cometiam para com os seus escravos e a opressão gerada pelo Governo imperialista da época frente aos ideais de liberdade civil ao qual o povo lutava.

Castro Alves sonhava com um dia em que os negros e o povo brasileiro teriam uma vida social melhor, depois do enorme sofrimento a que passaram (futuro de luz).

Muitos anos se passaram e o sonho de um Brasil republicano continua vivo entre os ocupantes da Câmara Legislativa do Distrito Federal: Reivindicam poder para o povo e pretendem lutar (pacificamente) contra a utilização do aparato institucional para legitimar a violência e a opressão.

                                                                   Por Gabriel Gomes e Artur Lins 


Nenhum comentário:

Postar um comentário